Jesus
demonstrou em seus ensinos ser o mestre por excelência. Seu conhecimento e
sabedoria causaram admiração aos leigos e educadores de seus dias. A
metodologia de ensino era inigualável e as mais importantes universidades foram
fundadas por sua causa.
Alguns
de Seus ensinos mais sublimes foram expressos em linguagem figurativa como as
parábolas. “Ele não poderia haver usado método de ensino mais eficaz”(1). A
reação dos ouvintes era: “Jamais alguém falou como este Homem” (João 7:46).
Um
exame minucioso destes ensinos é significativo quando se evidencia que um terço
do ensino de Jesus nos evangelhos sinóticos se apresentam em forma de parábolas
(2). O evangelista Marcos comprovou esse fato quando escreveu: “Com muitas
parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam
receber. Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola”. (Mc 4:33-34).
O
que é uma Parábola?
O
conceito popular de parábola é um tipo de figura de linguagem em que se fazem comparações.
“No velho testamento o termo utilizado em Hebraico em é marshal, que
também é usada para designar provérbio ou enigma”(3). No Novo testamento o
termo é parabole e “vem do Grego para (“ao lado” ou “junto a”) e ballein
(“lançar”). Assim, a história é lançada com a verdade para ilustrá-la”(4). “No
âmago do significado de parabole e marshal está a ideia de uma comparação entre
duas coisas dessemelhantes. A realidade de nosso mundo é posta em contato com
um mundo narrativo da parábola para alguma comparação que produza uma nova
compreensão” (5).
As
parábolas de Cristo estão correlacionadas com outras figuras de linguagem. As
“similitudes” geralmente falam de costumes no tempo presente fazendo uma
comparação entre dois elementos e usam geralmente as expressões como, assim
como, tal qual, tal como. Pedro usou uma símile quando escreveu: “...toda
humanidade é como a relva...” (1 Ped 1:24). Já as parábolas falam de um
determinado momento do passado (e.g., O semeador saiu a semear. Mat 13:3).
Também
são perceptíveis as alegorias. “É uma figura de linguagem, mais especificamente
de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua
expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal”
(6). Enquanto que uma parábola consiste num acontecimento factível, a alegoria
pode ser tanto factível como fictício. “Olhando para todas as parábolas que
Jesus contou e as situações variadas em que Ele as proferiu, é razoável afirmar
que Ele usou uma variedade de parábolas, algumas das quais eram meros símiles
que não precisavam muito de alguma explicação (todos compreendiam imediatamente
o seu propósito), e outras que poderiam ser melhor descritas como metáforas ou
como de natureza alegórica e precisando de explicação”(7).
Por
que Jesus falava por parábolas?
Assim
como a Divindade foi revelada através da sua humanidade, ao usar os elementos
da natureza em suas parábolas, Jesus fornecia um veículo poderoso para
compreensão das verdades espirituais em seus ouvintes. “Tão ampla era a visão
que Cristo tinha da verdade, e tão extensos os Seus ensinamentos, que cada
aspecto da natureza foi utilizado para ilustrar verdades. Ensinava com
autoridade já que toda a criação era obra de suas mãos. “O desconhecido era
ilustrado pelo conhecido; verdades divinas, com as quais o povo estava
familiarizado”(9). Mais tarde quando os ouvintes se deparavam com os objetos
ilustrados vinham-lhes a mente os ensinos de Jesus.
Não
eram simples ilustrações como as que estamos acostumados a ouvir num sermão. A parábola
envolvia as pessoas em um nível muito aprofundado de reflexão. Eram tão
penetrantes que produziam efeitos diversos. Enquanto uns entregavam o coração
instantaneamente a Cristo, outros o procuravam matá-lo.
“Ele
lhes disse: A vocês foi dado o mistério do Reino de Deus, mas aos que estão
fora tudo é dito por parábolas, a fim de que, ainda que vejam, não percebam;
ainda que ouçam, não entendam; de outro modo, poderiam converter-se e ser
perdoados” (Marcos 4:11 e 12).
Percebe-se
que o propósito das parábolas de Jesus era multifacetado. Usava para revelar e
ao mesmo tempo para esconder. Como “a multidão não julgava as parábolas; eram
as parábolas que julgavam as pessoas”(10), ao ouvinte interessado e sincero era
revelado aquilo que anteriormente estava oculto, o mistério do Reino de Deus.
Este grupo sentia o desejo de ganhar a salvação enquanto que o ouvinte
desinteressado ouvia a parábola, mas não entendia por que o coração estava
endurecido e por achar que sabia tudo. Para estes, restavam-lhes apenas o
juízo.
Ellen
White no livro Parábolas de Jesus, afirma que nem todos estavam preparados para
aceitar e compreender suas parábolas. Assim, evitava com que a multidão
incrédula lhe fizesse alguma acusação e rompesse com o seu ministério de
maneira prematura (11).
Regras
para interpretação de parábolas
No
livro "Compreendendo as Escrituras"(12) é apresentando quatro regras
básicas de interpretação:
1.
Evite alegorização
– Inicialmente é importante diferenciar entre alegoria e alegorização. Como já
foi citado, a alegoria usa uma metáfora ampliada para referir verdades fora do
significado literal da narrativa. Já a alegorização é o processo de usar algum
texto que não é alegórico por natureza e transformá-los em alegoria a fim de
promover novos significados que originalmente não era a intenção do autor. O
teólogo Agostinho usou a alegorização para dizer que na parábola do Bom
Samaritano o homem que descia de Jericó era igual a Adão(13). Ele não foi o
único a usar este princípio interpretativo. Durante séculos este foi o método
mais usado, mas o seu rompimento iniciou no movimento da reforma e terminou com
o erudito alemão A. Jülicher no século passado (14).
A
alegorização facilita enxergar qualquer coisa em quase todas as parábolas.
Acaba impondo um significado que o autor jamais pretendia.
2.
Reúna dados históricos, culturais, gramaticais e léxicos - O mundo em que
vivemos é muito diferente do mundo dos aldeões da palestina. Essa distância
pode ser amenizada usando as descobertas arqueológicas, bem como a leitura de
bons dicionários e comentários bíblicos e livros que retratam os costumes desta
época.
3.
Analise a narrativa da parábola – “As parábolas têm personagens, ações,
cenários e suportes, e relações de tempo; elas têm um narrador e um leitor
subentendido, um ponto de vista e um enredo. A Análise destes ajuda o leitor a
ver, de forma objetiva, a maneira por que é criado o impacto emocional da
narrativa e ajuda a delinear os temas e ênfases da narrativa.” (15)
Determine
o auditório. Para quem Jesus está falando? Para escribas, Fariseus, às
multidões, ou aos discípulos? A compreensão destas perguntas ajudará o leitor a
determinar se a aplicação da parábola é para os dentro ou fora da igreja; para
grupos ou pessoas. Também observe a reação dos ouvintes de Jesus, pois servirá
de excelente pista para o seu significado.
4.
Use o Espírito de Profecia – Depois da leitura Bíblica, esta deveria ser a primeira
fonte de pesquisa. O livro Parábolas de Jesus é rico em detalhes e fornece uma
interpretação correta das parábolas por ser um livro inspirado. Desta forma,
grande soma de tempo em busca de respostas com outras literaturas pode ser
evitada.
5
– Aplique a parábola à situação de hoje – Identifique o princípio teológico ensinado
por Jesus na parábola e aplique à sua vida pessoal. Lembre-se que a aplicação
provém da parábola em vez de ser imposta a ela.
Fabio
dos Santos
Pastor
na Associação Paulista Oeste
Referências:
(1) Ellen White, Parábolas de Jesus, p.
21.
(2) Grant R. Osborne, A Espiral Hermenêutica:
uma nova abordagem à interpretação bíblica (São Paulo:
Vida Nova, 2009), p.372.
(3) Ibid.
(4) Roy B. Zuck, A Interpretação Bíblica:
meios de descobrir a verdade bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1994), p. 225.
(5) George W. Reid, Compreendendo as Escrituras:
uma abordagem adventista (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), p.232.
(7)
George W. Reid, Op. Cit.,
225.
(8) Ellen White, Parábolas de Jesus, p.
20.
(9) Ibid., p. 17.
(10) Warren W. Wiersbe, Comentário
Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Vol I (Santo André:SP:
Geográfica Editora, 2006), p. 157.
(11) Ellen White, Op. Cit.,
21.
(12)
George W. Reid, Op. Cit., 235.
(13)
Ibid.
(14) Kennet Bailey, As Parábolas de Lucas
(São Paulo: Vida Nova, 1995), p.25.
(15)
George W. Reid, Op. Cit., 236.
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