Era um jovem cheio de idéias, um empreendedor.
Acreditava que poderia ficar rico e para realizar seu sonho, fez um grande
empréstimo. Todavia, à medida que o negócio crescia suas dívidas, também,
aumentavam. Não adiantava a esposa dizer que tivesse cuidado com tantas
dívidas, ele acreditava que sabia o que estava fazendo! E, realmente, parecia
que estava prosperando.
Um dia descobriu que,
embora estivesse crescendo, precisava de mais dinheiro. Suas dívidas já eram
muito grandes, mas ainda assim, resolveu procurar o homem mais rico da cidade,
um poderoso rei, e lhe pediu um empréstimo. Apresentou seus planos, ofereceu
como garantia tudo o que possuía, pois tinha certeza de que conseguiria
liquidar em pouco tempo aquele débito. Mas as coisas não aconteceram como ele
esperava. Muitas coisas deram erradas, sua dívida cresceu além de sua capacidade
de pagamento. Já não tinha o mesmo ar confiante. Irritava-se com os filhos
frequentemente, não conseguia mais dar atenção à esposa. Esta reclamava que não
recebia atenção do marido e os filhos, por sua vez, reclamavam que o pai só
andava de mau humor. Perdeu o apetite e o sono. Sua vida estava um caos. Tudo o
que pensava era como poderia saldar aquele compromisso. Uma das questões mais
sensíveis nos relacionamentos modernos refere-se a finanças: dificuldade
financeira uma das principais causas de problemas conjugais.
Um dia, recebeu um mensageiro que o fez ir à
presença de seu credor. Suava frio! Diante da exigência do pagamento de sua
dívida, ele teve que reconhecer o fracasso de dizer que não tinha como pagar.
Nunca se sentira tão mal, pensava. Mas as palavras seguintes do credor foram
mais difíceis ainda. Ele ordenou “que fossem vendidos ele, sua mulher, seus
filhos, e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida” (Mateus 18:25).
Descobriu que esse problema ia afetar toda a família. Somente ele era o
responsável por aquela situação e, agora, toda a família experimentaria as
conseqüências de seu erro. Ele se humilhou como nunca. Algo aconteceu naquele
momento, ele recebeu o perdão de sua dívida! Estava livre daquele tormento dali
para frente. Poderia retomar sua jornada ascendente, poderia dar tempo para a
família e os negócios com a mesma força e empenho de outros tempos, quando
ainda não tinha uma dívida absurda para administrar.
Estava radiante. Contava os minutos para chegar
a casa e relatar para a sua esposa as boas novas. Todavia, ainda no caminho,
não soube lidar com a liberdade que o perdão lhe proporcionara. Encontrou
alguém que lhe devia alguns poucos reais. Ao invés de oferecer-lhe o mesmo
perdão que experimentara, agiu com extrema dureza e arrogância, chegando mesmo
a sufocar a pessoa com as mãos, tamanha era a ira com aquele homem que estava
demorando em saldar o compromisso firmado.
Como a pessoa não tinha como pagar, o jovem
lançou-o na prisão, com a condição de que deveria permanecer lá até que pagasse
o montante devido. Finalmente chegou ao lar. A boa notícia do perdão ficou
sufocada pelo desgosto daquele desagradável encontro.
Algumas pessoas presenciaram a cena reclamaram
ao rei da severidade com que o jovem tratara alguém que tinha uma dívida
tremendamente menor do que aquela que o rei lhe perdoara. Novamente o rei o
chama. Desta vez ele vai cheio de si, sem imaginar o que lhe reservava.
Ouve duras palavras e, por seu comportamento, o
rei revoga o perdão e o leva à prisão, deixando a família desguarnecida de sua
presença (Leia o relato em Mateus 18:23-35). Embora o foco de Cristo nesta
parábola seja o perdão, ela também ilustra uma grande verdade: nossos atos
influem na dinâmica familiar. Não é possível entendê-la sem compreender a
vastidão dos contextos que podem influir na ordem familiar. Nesse caso, o
problema econômico gerou uma desagregação familiar, primeiro quase escravizando
todos os membros da família depois, gerando uma separação. E isso acontece
ainda hoje. Claro que não só as dívidas, mas a perda da saúde de um dos
membros, o luto, a interferência de parentes, a insegurança, o acesso à
educação e oportunidades de emprego e renda, a cultura, a religião, etc., podem
interferir na dinâmica familiar, positiva ou negativamente.
Mas diante de todos esses problemas, o perdão é
o elemento chave na regulação dos relacionamentos. O perdão viabiliza nossos
relacionamentos imperfeitos, em um mundo imperfeito, em meio a circunstâncias
imperfeitas. Precisamos constantemente de libertação e reconciliação.
De fato, precisamos de perdão em cada momento de
nossa vida, mas precisamos muito mais conceder perdão às pessoas que nos causam
mágoas. É ele que nos permite avançar, sem estarmos presos àquelas situações
que nos magoaram. Um pai que abandonou um filho, um esposo, um amigo, etc.,
pessoas importantes para nós, das quais jamais esperamos certos comportamentos.
Quando estes traem nossas expectativas surge a mágoa, e ela passa a estar
presente em nossa vida. Há pessoas que, apesar de decorrido muito tempo, ainda
sentem a dor emocional no mesmo nível de quando o problema ocorreu.
Nos últimos anos tem crescido o número de
psicólogos e profissionais da saúde que têm reconhecido a importância do perdão
para a saúde emocional e física. De tema religioso passou também a ser tratado
como uma questão de saúde. Um estudo realizado pelo Centro Médico da
Universidade Duke demonstrou que indivíduos com problemas crônicos nas costas
sentem menos dores quando conseguem perdoar as pessoas que as magoaram, além de
experimentarem menos problemas psicológicos, como o ódio e depressão, que
aqueles que não perdoaram. Um outro estudo da Universidade Estadual de Idaho,
ligou o perdão a uma baixa na pressão sanguínea e no nível de cortisol
(resultante de uma resposta do corpo ao estresse e enfraquecimento do sistema
imunológico) a partir de um grupo de 98 pessoas de camada social e econômica
média e baixa e que buscou ser o mais heterogêneo possível em termos raciais.
“O perdão é um recurso psicológico e social que
regula as relações humanas.” (John Berecz). Não perdoar é manter o papel de
vítima, que não permite o crescimento. É manter a raiva, mágoa, o rancor, pois
mantém uma situação do passado, que influencia o presente e compromete não só o
futuro, mas as relações de maneira geral, fazendo com que os laços afetivos que
os une enfraqueçam. Geralmente as pessoas com dificuldade de pedir perdão ou
perdoar, tendem a ser rígidas, inflexíveis, críticas com o outro e,
principalmente, consigo mesmas. É o perdão que permite que um casamento e que
uma amizade tenham continuidade depois de um conflito, ou que as relações de
trabalho sobrevivam em meio aos desentendimentos que costumam ocorrer em
ambiente profissional.
Jesus nos traz algumas lições práticas
para entendermos o perdão:
1) Quem não
compreende a dimensão do perdão que Deus concede, nunca aprenderá a perdoar.
2) O que de graça
recebemos de graça devemos conceder! A chave para o verdadeiro perdão é deixar de
focalizar o que os outros nos fizeram, e começar então a olhar para aquilo que
Deus fez e faz por nós.
3) Quem perdoa
coloca as pessoas em primeiro lugar. É preciso diferenciá-las das coisas ou de
suas ações. Os relacionamentos devem estar em primeiro lugar. Não é porque seu
filho fez algo que você não gostou que ele não pode mais ser amado! É
justamente aí que ele mais precisa do seu amor, até mesmo para dizer que ele
deverá assumir as conseqüências de suas decisões equivocadas.
4) Quem não
oferece o perdão torna-se vítima do próprio ódio. Quando não perdoamos, por
mais prejuízos que possamos ter, o maior deles é viver mal consigo mesmo e com
seus sentimentos. Pior ainda é alguém lhe pedir perdão e por orgulho ou
superioridade você negar. Seja humilde, releve. Mas depois que perdoou, olhe
para frente sem ficar remoendo o que aconteceu ou voltando ao assunto na
primeira discussão.
5) As pessoas que
nos amam sofrem quando não conseguimos perdoar, mesmo que não estejam
envolvidas na situação. A fragilidade da saúde, o distanciamento, os maus
sentimentos cultivados por quem vive preso a uma mágoa causa danos a quem
compartilha a vida conosco.
6) O perdão tem
seu preço. Quando o rei perdoou o servo, ele abdicou de uma grande soma em
dinheiro. Todo perdão exige que alguém tome sobre si algum tipo de prejuízo.
7) O perdão não
livra automaticamente das conseqüências. Embora o servo tenha sido perdoado,
isso não significa que ele pudesse agir de qualquer modo, nem que o rei
voltaria a ser credor novamente. Uma coisa é o perdão, aquele sentimento de
estar livre da mágoa que alguém lhe causou, outra é o nível de reconciliação
que se permitirá, ou não.
Se eu não posso mudar o que aconteceu…
O perdão exige mudança de atitude. É preciso
reformular, ver algo sob uma nova luz. Enquanto continuarmos presos às magoas
que nos causam, jamais seremos capazes de superá-las. A parábola que Jesus
contou fornece-nos algumas pistas pelas quais trilhar se desejamos experimentar
o perdão libertador:
1. Saiba
exatamente como você se sente sobre o que ocorreu para ser capaz de expressar o
que há de errado na situação. Havia uma dívida, este era um fato. O problema é
que o servo do rei tomou a pequena dívida em termos pessoais a ponto de agir
com extrema ira com o seu devedor, esquecendo-se do perdão maior que recebera
há pouco.
2. Comprometa
consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor. O homem achava
que se sentiria melhor colocando o devedor na cadeia, fazendo-o sofrer. A
vingança não é capaz de produzir alívio. O perdão deve encontrar espaço porque
é importante para você.
3. Entenda seu
objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que
o perturbou, nem se tornar cúmplice dela. O rei ao perdoar o servo não disse
que continuaria sendo credor do mesmo.
4. Tenha uma
perspectiva correta dos acontecimentos. Reconheça seus sentimentos, foque-os no
problema e não nas pessoas. Ao lançar o devedor na cadeia, este ficaria
impossibilitado de trabalhar e, portanto, de saldar a dívida. O devedor ficaria
preso e o credor continuaria preso aos maus sentimentos que nutria por conta da
dívida.
5. Quando você se
sentir aflito, aprenda a controlar o estresse. Focalize em Jesus, Ele perdoou
você muito mais do que qualquer mágoa que alguém lhe tenha causado, a ponto de
entregar-Se à morte de cruz por você.
6. Não espere dos
outros, coisas ou ações que elas não escolheram ou não podem dar a você. Lembre
a si mesmo que você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar
para consegui-los. Porém você sofrerá se exigir que essas coisas aconteçam
quando você não tem o poder de fazê-las acontecer. O devedor não tinha como
pagar seu débito. Ao invés de focar no perdão recebido há pouco, o homem deixou
que sentimentos de ira e avareza dominassem sua vida.
7. Ao invés de
escrever a história de suas mágoas, comece reeditando sua vida a partir da
experiência libertadora do perdão. Alguém me feriu, mas pelo amor de Deus, pelo
meu amor a mim e pelo amor aos outros, no poder daquele que é Amor, você será
capaz de perdoar. Um bom caminho é começar orando a cada dia para que Deus lhe
dê poder para perdoar o seu ofensor.
É claro que em algum momento alguém já lhe
machucou. Talvez você ainda não tenha conseguido superar tal situação. O que
Jesus ensina por meio desta parábola não é somente que você deve perdoar, mas
que Ele lhe dará forças para isso. O Seu perdão deve ser o ponto de partida
para que finalmente você tenha essa experiência libertadora em sua vida. Seus
relacionamentos agradecerão!
“Ao causar um dano ao seu inimigo, você se torna
inferior a ele; ao se vingar dele, você se iguala a ele; ao perdoá-lo, você se
torna superior a ele.” Benjamin Franklin.
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